A invenção de Lauro de Brito Viana
Foram quatro anos de graduação, foram quatro anos de ônibus diariamente até o campus carreiros, foram quatro anos entrando no pavilhão quatro, foram quatro anos entre as salas 428 e 420, foram quatro anos conhecendo e desconhecendo gente, foram quatro anos tomando café no Bar do Meio, foram quatro anos enfrentando o Xerox, foram quatro anos pegando micro, foram quatro anos esperando para ter aula com Lauro de Brito Viana!
Mais do que um ser humano, ele já adquiriu o status de mito nos corredores do pavilhão 4: “Lá vem o Lauro” (sempre com o comentário à seguir: “se arrastando”). Sim, aquele homem de andar vagaroso, que você não sabe se está parando ou andando lentamente, cabisbaixo, com sua indefectível boina e óculos raiban, atende pelo nome de Lauro de Brito Viana. O professor que todos dizem: “Não, ele morre antes de dar aula para tua turma” (frase que se repete a mais de 5 turmas)
Mas não se enganem, ao chegar em sala de aula esse homem retira sua carapaça e se transforma em um X-Men de nível máximo. Num piscar de olhos ele é capaz de dançar a coreografia de “Chiquita Bacana” (para explicar a influência estadunidense no continente americano) com seu insólito “corpinho de toureiro”. Suas risadas tornam-se ameaçadoras à mesma medida que hilárias (pois você acaba rindo da risada e não dá piada que ele contou pela enésima vez)
Bem, as piadas são um quesito à parte.
No primeiro bimestre são todas inéditas. Nesse repertório você fica conhecendo a dos ratinhos no bar mexicano, ou então os quase contos do Padrinho François. No segundo bimestre uma ou duas piadas se agregam, mas agora o que se intensifica são os alunos que ele já teve – aliás, o Lauro nunca deu aula para pobre, pois todos ex-alunos dele viraram donos de grandes empresas ou eram filhos de grandes empresários (Goodyer, redes de supermercados, Votorantim, Antártica...). Claro, nunca esquecendo o banho que ele teve que dar no Lula (sim, o presidente) depois de uma cachaçada em conjunto nos tempos de ABC paulista e fundação do PT (clássica!!). No segundo semestre, as piadas se repetem, mas ele conta como se ninguém jamais tivesse ouvido elas, mesmo a turma em coro dizendo: "essa já foi!".
Que casos de Romualdo que nada, os causos mais mirabolantes que já existiram foram os de Lauro de Brito Viana. Ele simplesmente esteve em todos os lugares em todos os tempos da história – ele viu a Rainha Elizabeth no MASP, o Pierre Chaunu roubou o programa de quantificação dele! – e sempre conta tudo com um sabor de “eu estava lá”. As histórias de seu tempo na França... Passando frio resolve tomar uma bebidinha estranha para se esquentar, alguém avisou que deveria tomar pouco, pois ela esquentava “mesmo”, resultado que ele conta: “tomei tanto que até o chão que eu pisava derretia”.
Mas bem, tudo isso, essa espécie de folclore, para chegar no ponto crucial: Lauro é o grande mestre do curso de História da FURG. Depois de quatro anos, ao se aproximar a formatura, parece que a ordem é “relaxar”. Isso não quer dizer “largar de mão”, não, muito pelo contrário. Você começa a saber que o futuro (e o provável desemprego) estão ali, na sua frente, batendo a porta, e assim tem que haver algum tipo de definição. Ao entrar nas aulas do Lauro parece que o mundo para e um cosmos particular se estabelece. O espírito que melhor define sua aula seria: “relaxa e goza”, ou então, “senta e escuta, que lá vem a história...”.
É como se em suas aulas o clima fosse leve. Alguns chamariam de perda de tempo (claro que ele tem detratores), eu prefiro pensar que me divertia muito em suas aulas. Alguns reclamavam, mas pergunto: tivemos tantos professores abomináveis, e porque somente o Lauro causa esse desconforto todo o surto de “querer aprender” aconteceu somente agora? Relaxem e gozem.
Todas as piadas adquirem mais sentido depois de quatro anos, e o que nós queremos é um último ano “light”, tranqüilo, não é? Os sobressaltos, os 7 mil artigos deixamos para os três anos anteriores, restando assim as tardes com Lauro Viana (que sim, tinha dias que cuuuuustavam a passar, mas em compensação outros....) e sua inesquecível forma de encerrar a aula: “chamadinha surprise!”.
Se tivesse que realmente homenagear um professor somente, não hesitaria em escolher o Mestre Lauro – pois ele é o único entre todos os professores em que você percebe desde a primeira aula que somente uma única coisa motiva ele para sair da República Federativa Anárquica do Bolaxa até a FURG: o PRAZER de dar aula. Tá no seu olho o prazer de “contar histórias”. Lauro não é um historiador, é um contador de histórias? Pode ser...
Tá na cara que ele é o único que encara sua profissão com um prazer ímpar dentro de nosso departamento, enquanto para alguns parece doído dar aula, se esforçando em erudição, para ele a coisa é “fluída”, até simples (nunca simplista) levando em consideração sua bagagem de mais de 40 anos de leitura. (metodologia a gente muda, para aqueles que o consideram atrasado, mas prazer o que ele tem não se acha no pavilhão 4).
Por isso tudo lanço minha teoria: No sétimo dia Deus não descansou, ele parou tudo para inventar Lauro de Brito Viana!
Fonte: territorionobrega.blogspot.com
Um comentário:
Para quem o conhece sabe que se foi inventado por Deus, ele se reinventou várias vezes ao longo de sua vida. Escolheu Rio Grande como sua Cidade e adquiriu todos os Báh che do povo com que ele resolveu viver. e nós os preteridos que vivemos em sua primeira parte da vida temos muitas saudades. Sou muito grata a voce que lhe fez esta linda homenagem. Rita de Cássia
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